Por Paulo Fochi
O que é uma mesa, para uma criança de um ano, independentemente do uso que os adultos fazem dela? É um teto. Pode-se agachar em baixo dela e sentir-se o chefe da casa: de uma casa sob medida, não tão grande e terrível como a casa de gente grande. Uma cadeira é interessante porque se pode empurrá-la aqui e ali, para medir a própria força; pode virá-la e arrastá-la, atravessá-la de mil maneiras. Pode-se bater nela, se malignamente ela nos dá uma pancada: "cadeira feia"!
A mesa e a cadeira, que para nós são objetos consumados e quase invisíveis, dos quais nos servimos automaticamente, são para a criança durante muito tempo materiais de uma exploração ambígua é pluridimensional, onde são as mãos o conhecimento e a fabulação, a experiência e a simbolização.
RODARI, 1982, p. 87
Gianni Rodari, em um de seus textos do livro Gramática da Fantasia, comenta que para uma criança uma mesa não é apenas uma mesa. Gosto dessa provocação de Rodari, aliás, a considero produtiva para irmos construindo a respeito da docência na educação infantil. São dois aspectos que gostaria de comentar, a saber: a preparação dos contextos e a expectativa adulta.
Já se sabe muito que a organização de materiais e espaços adequados oferecem para as crianças múltiplas possibilidades de investigar, descobrir e formular suas teorias sobre o mundo. Junto a isso, ter tempo adequado para que as crianças possam fazer suas investidas sem pressa é estruturante para a ideia que estamos aqui tratando.
Na esteira deste pensamento, a escolha de materiais abertos, disponíveis para que as crianças possam explorar, inventar, fantasiar e, mais ainda, estruturar a partir de suas ideias e hipóteses podem ser fontes inesgotáveis de brincadeiras.
Rodari fala que a "criatividade é sinônimo de pensamento divergente, isto é, de capacidade de romper continuamente os esquemas da experiência. É criativa uma mente que trabalha, que sempre faz perguntas, que descobre problemas onde os outros encontram repostas satisfatórias" (RODARI, 1982, p. 140). Aqui entra a questão das expectativas do adulto ao preparar uma proposta, ou, oferecer um material para as crianças.
Fazer uma proposta imaginando aonde as crianças devem chegar, o que irão descobrir e, portanto, como devem fazer, é sempre uma simplificação da rica possibilidade que reside no encontro entre os meninos e meninas com os materiais não estruturados.
Gosto desta imagem do Tonucci. Ela revela exatamente o que se esconde nas "atividades" que os adultos pensam para as crianças: pobreza, simplificação, estereótipos.
Ao contrário disto, podemos se aventurar no desconhecido, ou melhor, colocar as nossas energias em criar contextos abertos, ricos e diversificados. Uma caixa, por exemplo, nas mãos de uma criança, jamais permanece "apenas uma caixa". Ela se transforma em cenários, adereços, esconderijos... Quando disponibilizada com outros materiais que "combinam" com ela - por exemplo cordas, cones, prendedores de roupa - mais interessante e fora do controle do pensamento adulto a experiência poderá se transformar.
Aqui no Catadores da Cultura Infantil nós já postamos um simpático vídeo, as aventuras de uma caixa. Vale recordar ele para se inspirar. Pense nisso!!!
Nossa belíssimo texto, que vem de encontro com as discussões vividas em um grupo de estudo.
ResponderExcluirPara a criança o objeto caixa tem múltiplas possibilidades, porem, enquanto o professor não ampliar seu olhar e tirna sua visao um caleidoscópio a caixa será eternamente uma caixa.